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Nossa Expectativa de Deus

Marcos 6:45-52

Depois de uma vitória tão grande os discípulos foram obrigados, por Jesus, a subir no barco e remar para o outro lado, para Betsaida. Jesus despediu, sozinho, aproximadamente 10.000 pessoas, virou as costas para os discípulos e foi para o topo da montanha orar. E lá embaixo, na praia, ficaram os discípulos, decepcionados e frustrados. E como revela Marcos no verso 52, “não tinham entendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido.”

Os discípulos não só estavam cansados, como também frustrados com Jesus. Como pescadores experientes conheciam aquele lago traiçoeiro onde as tempestades costumavam chegar sem avisar. Tinham ido a vários enterros de colegas pescadores por causa delas. E, de fato, enfrentaram uma forte tempestade naquela noite. Alguém disse que “a maior tempestade não aconteceu no mar, nem no céu, a maior tempestade aconteceu nos corações dos discípulos. E o maior medo não foi ver as ondas assustadoras… O maior medo em seus corações foi ver seu líder pelas costas quando Ele se afastava em direção contrária”.

Você já viu Deus pelas costas? Você já enfrentou o silencio de Deus alguma vez? Quando você ora, e ora, e ora… e nada acontece? E nos perguntamos: “E Deus? Para onde foi?”

Eu já passei por isso.

Quando perdemos, subitamente, nosso filho mais novo, Fabio, um jovem pastor de 28 anos, por mais que eu tentasse e orasse, não conseguia sentir o amor de Deus nem ouvir a Sua voz.

No meu luto, o céu se tornara de bronze. Impenetrável… E Deus… calado!

No terceiro ano deste silencio de Deus, eu estava ministrando numa conferência na cidade de La Hage, na Holanda. Estávamos hospedados num antigo mosteiro do século 18, transformado em um centro de conferências. No segundo dia, quando tomava o café da manhã depois de todos terem se retirado do refeitório, entrou um outro conferencista. Pediu licença e perguntou se podia tomar café comigo. Era um homem de uns 50 e poucos anos. Tinha uma aparência triste e sombria.

Começamos a conversar e logo estávamos falando do sofrimento humano. Ele disse que acabara de receber a notícia da morte de seu melhor amigo. E acrescentou: “Com este, são oito pessoas que perco nos últimos 3 anos”. “Interessante, eu disse, meu esposo e eu também perdemos 8 entes queridos nos últimos 3 anos; inclusive nossas duas mães e nosso filho mais novo de 28 anos”.

Então lhe perguntei: “Como você lida com todas estas perdas? Isso faz algum sentido para você?” Ele respondeu: “Não, humanamente falando não faz sentido algum, mas pela perspectiva espiritual, posso até entender, Deus pode usar o sofrimento para cumprir o que Paulo escreveu aos Filipenses, como lemos no capítulo 3, verso 10: “para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos”. Em Colossenses 1:24 ele escreveu: “Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja”. E acrescentou: “Por onde vou, eu encontro uma comunidade de pais e mães, maridos e esposas, servos de Deus que não foram poupados e que estão sofrendo perdas irreparáveis. Mas apesar de tudo, permanecem fiéis a Ele. E ao ver a dedicação e resiliência deles em meio ao sofrimento, a igreja é encorajada e fortalecida”. Aquilo calou profundamente o meu coração.

Fui para o meu quarto e caí de joelhos na beira da minha cama. “Senhor, eu quero ser digna da tua confiança… sem te envergonhar… Fala comigo, meu Deus!” E foi aí que vi minha bíblia aberta sobre minha cama em Lamentações 3:44…. “Te escondeste atrás de uma nuvem a fim de que oração alguma possa passar”. E fiquei ali aos Seus pés em rendição a Sua soberana vontade. E de repente, entendi o que sabia tão bem…Deus estava calado porque Ele é soberano. Se Ele confiou a sua reputação a mim, como fez com Jó, eu me renderia e me curvaria diante da sua soberania. Lembrei que, como líder de um movimento global, literalmente, pessoas no mundo inteiro estavam me observando. E me senti muito honrada de participar “da comunhão dos sofrimentos” do meu Redentor.

Pensei em Jó. Depois de ter passado por todo aquele sofrimento e de fazer todas aquelas perguntas à Deus. Deus respondeu a todas elas com um capítulo inteiro, não de respostas, mas de outras perguntas. E Jó acabou confessando: “Bem sei que tudo podes, e que nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Eu te conhecia de ouvir falar; mas agora os meus olhos te vêm” (Jó 42:4). Por isso me arrependo nas cinzas e no pó.

Foi o que fiz no meu pequeno cubículo naquela manhã gelada do inverno holandês. Fiquei ali de joelhos por um longo tempo arrependida e humilhada diante do Senhor.

Pela fé eu recebi o perdão de Deus pela minha arrogância de querer que Deus me desse satisfação… “Como assim, o Senhor ousa levar meu filho?” Bem como os discípulos na multiplicação dos pães, meu coração estava endurecido por conta da dor, mas… no fundo no fundo, era o meu egoísmo, orgulho e arrogância espiritual. Minha janela quebrada.

Durante os três anos de silencio aprendi lições preciosas:

1 – Aprendi que quando Deus se cala, a primeira coisa a fazer é calar também.

Temos que parar de espernear, de gritar, de perguntar, de dar sugestões a Deus, e de reclamar!

Grande parte dos meus anos de deserto foi porque a minha dor gritava tão alto dentro de mim, que não havia silencio para ouvir a voz de Deus. Somente pude ouvir a Sua voz quando me rendi a Sua soberania e sabedoria. E num esforço consciente, então, eu fiz calar a minha alma e a minha dor como o Salmista, no Salmo 131:1-2 “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo”. A nossa tendência é sair correndo para a amiga, para o pastor, para a psicóloga e não para Deus! Mas nossa dor não pode ser terceirizada. Ninguém, somente Ele pode responder a nossa necessidade. Jó do alto da sua vasta experiência com feridas e de sua dor exclamou: “Pois ele faz a ferida, e ele mesmo a liga; ele fere, e as suas mãos curam” (Jó 5.18).

Durante aqueles três anos, pela graça de Deus, continuei viajando pelo mundo confortando, encorajando e falando a milhares de mulheres com dores muito maiores do que a minha. Ainda que por dentro eu estivesse sangrando. Muitas vezes Satanás me acusou de hipócrita, pois eu estava falando de coisas que eu não estava vivenciando. E, de fato, eu estava anestesiada emocional e espiritualmente. Assim, Deus me deu a graça de continuar a luta pela dor alheia. E quanto mais obedecia, semeando a palavra e a esperança, sim, com lágrimas, mais Ele abençoava o trabalho! E,

exatamente naqueles anos de silêncio, de luto e luta pessoal, o ministério quase que dobrou de tamanho e influência!

2 – Aprendi que – além de calar – precisamos fazer algumas perguntas difíceis a nós mesmos.

Há pecado não confessado em minha vida? Algum pecado oculto? Preciso vasculhar meus motivos, minhas prioridades, meu agir na família, no trabalho, na igreja etc. Estou conscientemente, ou inconscientemente ignorando uma ordem que recebi de Deus? Estou em dívida com Deus? Com marido, esposa, filhos, patrão, outros? Há falta de perdão? Há falta de transparência e prestação de contas em meus relacionamentos?

3 – Precisamos confessar, não só o pecado que cometemos contra o Senhor, mas também os pecados que outros cometeram contra nós.

Pecados ocultos que só você e a pessoa que cometeu sabem. Tais pecados distorcem nossa visão de Deus, nos ensurdecem espiritualmente e deixamos de ouvir a Sua voz. Precisamos confessar estes pecados. Confessar, entregar a Deus e abandonar o pecado. E onde há necessidade de perdão, mesmo que seja unilateral, é preciso perdoar. Mesmo que perdoar, nesta hora difícil, seja um exercício da sua vontade e não dos seus sentimentos. Perdão desentulha o nosso relacionamento com Deus.

4 – Aprendi que mesmo no silêncio Deus não está ausente.

No silêncio Deus ouve. Mesmo quando não sentia Deus, persisti em oração. E quando me senti fraca demais, procurei irmãs e irmãos que fizessem como Arão e Ur, segurando os braços de Moisés enquanto a batalha estava ferrenha no vale. E estes queridos me sustentaram com suas orações. Voei com asas emprestadas – as asas de sua fé, não a minha! Não podemos terceirizar a dor, mas o encorajamento e a fé, sim. Em Gálatas 2:6, Paulo escreveu: “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo”.

5 – Aprendi Persistência e fé.

Mesmo vendo Deus pelas costas, enfrentando Seu silêncio, e tendo outros me carregando em oração, eu tinha que continuar insistindo, batendo na porta do céu, ainda que o céu fosse de bronze. Aprendi, também, que Deus está no controle e que mesmo no silêncio Ele trabalha para que sejamos transformados na imagem de Cristo Jesus. Gosto muito daquela canção que diz: “É meu, somente meu, todo o trabalho…. o teu trabalho é descansar em mim.” Aprendi a descansar nele.

6 – Aprendi que Deus simplesmente se distancia para provar o que está no nosso coração.

Tem horas que Ele emudece. Ele fica incomunicável. Ele nos preocupa com sua ausência. Ele não sobe no barco conosco! Ele nos manda para o outro lado do mar. Por quê? Deuteronômio 8:2 nos dá a resposta: “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarías os seus mandamentos, ou não”.

7 – “Deus dá permissão à Satanás de provar a fé dos seus servos.

Uma das lições importantes que prendi na Holanda foi que Deus escolhe certas pessoas para sofrer por amor a sua causa. Pessoas como Jó, a quem Ele pôde confiar a sua reputação. Pessoas como Paulo, carregando o espinho na carne sem nunca desistir da obra que Deus lhe dera para completar. Pessoas que Ele permite fazer parte da comunhão dos seus sofrimentos, sabendo que estas pessoas nunca o envergonharão.

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Os discípulos continuaram lutando na tempestade. Esperaram seis longas horas, sem dúvida, pensando que Jesus os havia abandonado. A tempestade tem esse efeito em nossas vidas. No desespero, ela revela o que realmente está no nosso coração. Se honramos e respeitamos a sabedoria e soberania de Deus, ou não.

Gosto do que Marcos nos revela neste tempo de espera dos discípulos em meio a tempestade. Ele diz: “Jesus observava que o vento era contrário” e por isso foi ao encontro deles. Jesus sabe tudo a respeito de “ventos contrários”, jamais esqueça isso!

Jesus sabe o que você está enfrentando agora. Ele vai chegar para mandar a tempestade sumir, acabar, no entanto, muitas vezes em sua bondade, Deus nos faz esperar pela resposta que chega no Seu tempo, não no nosso! Na tempestade, quando não conseguimos entender o que a mão do Senhor está fazendo conosco, sempre podemos confiar em Seu coração!

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A noite vai alta, os discípulos prestes a naufragar e Jesus, enfrentando ventos contrários, caminha em direção ao barco para aquietar seus discípulos. Que quadro poderoso este!

Marcos diz que seus corações estavam inflexíveis, e assim não O reconheceram. Suas expectativas não haviam sido respondidas. O vidro de suas janelas da alma estava estilhaçado e sua visão distorcida. Tanto assim, que, o que foi que eles viram? Não o homem com quem estavam vivendo dia e noite por 3 anos, mas sim, um fantasma! Que quadro ridículo! Homens fortes, machões, experientes, gritando de medo de um fantasma imaginário!

Talvez de dentro dos “ventos contrário” que rugem em sua alma agora, a figura que você vê andando em sua direção lhe parece um fantasma, mas não…. É Jesus! Ele vem para distorcer sua visão deturpada dele mesmo, e do fundo do seu coração compassivo Ele diz: “Não temas!” Ele vem cumprindo sua promessa maravilhosa em Isaias 43:1-2 “…assim diz o Senhor que te criou…: Não temas, tu és meu. Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama alguma arderá em ti”. Ele é Deus presente, Deus bondoso, Deus restaurador, Deus fiel a si mesmo. E como disse o salmista: “Ao fiel, tu (Senhor) permaneces fiel”

E se, em sua infinita sabedoria e vontade, ele não acalmar a tua tempestade, Ele tem o poder de te capacitar a andar sobre as águas turbulentas da tua vida. Na verdade, ele nunca está longe, o seu amor e sua palavra me asseguram que “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido” Salmo 34.18

Marli Spieker

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A Vida Substituída Aplicada – Do Fazer ao Ser

Eu tinha sete anos de idade quando convidei Jesus Cristo para entrar na minha vida. Jamais esquecerei aquele dia, quando pedi perdão dos meus pecados e agradeci a Jesus por Ele ter morrido na cruz por mim. Ele confirmou a minha oração com uma profunda paz e alegria transbordante. Isso aconteceu numa evangelização para crianças, na cidade de Dortmund, na Alemanha Ocidental. Lembro quando, depois da reunião, caminhava para casa. A rua era escura e a maioria das casas estava em ruínas, pois havia passado apenas um ano do fim da segunda Guerra Mundial.

Naquela noite o meu coração transbordava de luz e alegria. Eu tinha nascido de novo! O Deus do universo tinha se tornado o meu Pai celestial. E tudo isso em resposta à uma simples oração de fé. A salvação, o maior de todos os presentes, foi oferecida a mim como dom da graça de Deus. Não tinha o que eu precisasse fazer além de aceitar, de coração, este presente divino. Jesus havia feito tudo ao morrer em meu lugar na cruz, pagando, assim, a dívida e culpa do meu pecado. É bom demais!

Quando cheguei em casa naquela noite exclamei: “Mutti (mãe), eu entreguei a minha vida à Jesus!” Ela me deu um abraço e disse: “Vai, conte para o vovô”. Ele estava no outro quarto. Foi o que eu fiz e, desde lá, continuei fazendo exatamente isso, contar aos outros o que Jesus havia feito por mim. Com oito ano fui batizado, depois que irmãos da igreja confirmaram que, de fato, entendia o profundo sentido deste ato de obediência.

Com dez anos de idade sofri um acidente que quase custou a minha vida e, estando em coma em um hospital católico, irmãos da igreja se revezavam para orar ao lado da minha cama. Deus ouviu às orações, e, contrário ao diagnóstico do médico, me recuperei. Depois de dois anos não mostrava mais nenhuma sequela daquele acidente traumático.

Com onze anos eu sabia que Deus havia me chamado para ser um missionário. Queria dedicar toda a minha vida para levar o evangelho aos outros. Eu entendia que a salvação está somente em Cristo e que todos nós estamos perdidos sem Ele. Hoje reconheço que nem todos os métodos que eu usava para levar o evangelho eram adequados. A exemplo de quando levava os meus folhetos, escritos à mão, para dentro das igrejas católicas na nossa redondeza. Na minha objetividade e desejo de salvar os outros, ainda não sabia distinguir entre a voz do Espírito de Deus e a minha própria determinação. Eu sabia que tinha encontrado a verdade, mas ainda não entendia que somente o Espírito de Deus é aquele que convence os corações e que a minha tarefa era apenas ser uma testemunha obediente do amor de Deus. Em casa eu era o filho

obediente. Me esforçava para seguir o padrão da vida cristã, minha mãe tinha orgulho de mim e eu experimentava cada vez mais a realidade da vida de fé.

Aos 15 anos a minha família se mudou para o Brasil. Nos primeiros três anos fiquei em uma igreja muito conservadora, mas depois entrei em uma denominação evangélica que servia à Cristo com alegria. Acabei me tornando o líder dos jovens. Com 23 anos voltei à Alemanha para ir ao Seminário, pois queria servir ao Senhor. Deus usou esses anos para testar a minha fé e provar o que estava em meu coração. Na época, minha mãe, uma verdadeira heroína na fé que muito influenciou a minha vida, me confortou com Deuteronômio 8:2-3.

Voltei ao Brasil bem mais consciente da minha dependência total de Deus. Um ano depois encontrei a minha esposa. Ela também tinha entregado a sua vida à serviço de Deus na adolescência. Nos amamos de coração e temos uma sinergia maravilhosa no ministério. Ela estava comigo quando liderei o trabalho de Diaconia por três anos. Em 1969 começamos o ministério da Rádio Trans Mundial (RTM) no Brasil que lideramos por 14 anos. Depois atuamos na liderança da RTM, em nível internacional, por 34 anos. Hoje tenho o privilégio de estar andando com Jesus há 73 anos. Tem sido uma caminhada maravilhosa, pois Deus é fiel em todas as circunstâncias.

Uma das mais profundas e impactantes experiências no ministério foi quando compreendi a realidade de Colossenses 1:27 e Gálatas 2:20, sobre a vida de Cristo em mim, de uma forma presencial. Não que não soubesse que, no fim das contas, a obra é do Senhor e que sem Ele eu não podia fazer nada. Marli, inclusive, tinha bordado um lindo painel com o versículo de João 15:5 que decorava o meu escritório desde 1970, mas foi diferente quando o Senhor me abriu o entendimento para o fato de que a Graça, que me salvou em 1946, é a mesma Graça que hoje, e a cada dia, quer me fazer andar nas boas obras que Deus me preparou de antemão (Efésios 3:8-10). O que conta não é minha performance, mas a vida de Cristo em mim.

Quando entendi que a minha identidade em Cristo é real e presente, desde o momento em que Ele entrou no meu coração e me fez um filho de Deus (João 1:12), toda a minha perspectiva ministerial mudou. Comecei a entender que discipulado não é apenas um exercício de disciplina e autocontrole, mas é a rendição total e diária da minha vontade ao Espírito de Cristo que habita em mim (1 Coríntios 6:17). Quando me apropriei do fato de que a minha velha natureza já morreu com Cristo na cruz (Romanos 6:6) e que eu, livre do poder do pecado (Romanos 6:22), posso viver a vida de santificação no poder de Cristo, um grande peso caiu das minhas costas. Entendi que o que eu tinha feito, até então, era tão ridículo como a história do homem que havia recebido uma carona e, quando já sentado no carro e convidado a tirar a mochila pesada que carregava nas costas, se negava, pois achava que, dessa forma, aliviava o peso no carro.

Sendo assim, Mateus 11:28-30 começou a ter um novo sentido para mim. Entendi que muitas vezes eu havia feito a obra de Deus com a minha própria força. É certo que eu era bem-intencionado, mas justificava a minha falta de tempo para a família e outras coisas importantes dizendo que era responsável pela obra do Senhor. Agora entendo por que andava exausto e sem paz. Eu tinha trocado as prioridades.

Entendi que antes de poder fazer o trabalho de Deus, eu tinha que estar em íntima sintonia, em comunhão de jugo e obediente à Jesus. Ele queria tirar de mim a mochila pesada e colocar nos meus ombros o seu fardo, que é leve. Entendi que a base do padrão do mundo, de saber, ter, fazer e controlar é contrário ao valor do Reino, que é ser uma nova criatura, ser um discípulo de Jesus. A verdadeira obra de Cristo é somente o que Cristo operou. O resto é religiosidade. Quando reconheci isso, me assustei. Quanto do meu investimento tinha sido no suor de Caim e simplesmente obra da carne, aquela que Deus rejeita (Romanos 8:8). O meu arrependimento foi profundo. Hoje louvo à Deus pela sua abundante graça que cobre, também, o pecado da autossuficiência espiritual. É ser para fazer! É Cristo em mim, autor e consumador. E isso não nos leva a inatividade, pelo contrário. Paulo dá a resposta quando diz: “Trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo”. (1 Coríntios 15:10).

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Vida Substituída

RESUMO DO ARTIGO

  • Independente se a vida é boa ou ruim, é necessário uma “substituição”.
  • A natureza pecaminosa deve ser substituída pela natureza de Cristo.
  • Tudo o que você precisa você encontra em Cristo.

SATISFEITO

Como assim? A vida que eu vivo não é verdadeira? E se eu não quiser trocar a minha vida? Gosto do jeito que eu vivo! Sou feliz, resolvo bem as situações à minha volta, tenho condições de pagar minhas contas, investir, viajar, e inclusive, ajudo outras pessoas! Não vejo por que trocar minha vida por outra!

INSATISFEITO

Como faço para trocar a minha vida? Não aguento mais! É um pesadelo! Estou cansado e não tenho mais forças para levantar da cama, trabalhar ou cuidar das minhas coisas. Faço qualquer coisa para trocar minha vida por outra melhor! Estou confuso, ansioso, perdido!

A MELHOR OPÇÃO

Independente se você ama a sua vida ou se você odeia a sua vida, para experimentar a vida verdadeira, é necessário uma troca, uma substituição. Você terá que “sair de campo”, para que “entre” alguém que é, incomparavelmente, melhor, mais sábio, mais poderoso, mais amoroso e mais equilibrado! Essa “substituição” é a melhor coisa que pode acontecer a você! Na verdade, é impossível que algo mais poderoso, intenso, profundo e transformador aconteça a você!

PROTEGIDO

Talvez você tenha crescido em um ambiente protegido, dentro de uma família estável e funcional, com uma condição financeira razoável, amigos, e muitas oportunidades para crescer e adquirir conhecimento. Hoje você está feliz, talvez casado, filhos, um bom emprego, ou até mesmo um negócio próprio. Possivelmente insatisfeito com algumas questões políticas, econômicas e sociais (isolamento, quarentena etc.). Mas nada que não se ajuste com esforço e dedicação, assim que as coisas normalizarem. Talvez você até esteja engajado em projetos sociais e desenvolvimento de comunidades. Quem sabe, você inclusive busca a Deus e tem procurado viver de acordo com a sua fé.

DESPROTEGIDO

Mas é possível também que você tenha crescido em um ambiente desprotegido e perigoso. Dentro de uma família disfuncional, onde não houve segurança, aceitação, proteção e amor. Sem condições financeiras para estudar, você teve que trabalhar muito cedo. Na família e no trabalho você não foi valorizado, mas sim, cobrado, mal tratado, e mal pago. Poucos amigos e poucas oportunidades tornaram a sua vida difícil, sem sentido e deprimente. Deus existe e você até acredita Nele, mas é evidente que ele tem os seus preferidos! E agora, você está pagando o preço de uma vida medíocre!

DEUS AMOU O MUNDO

Mas todas essas diferenças de contextos geográficos, econômicos, familiares e sociais, são na verdade, diferenças humanas, temporárias e passageiras. Nenhuma dessas diferenças é eterna! Diante de Deus, não há preferidos, nem mais ou menos importantes, nem mais ou menos amados, nem mais ou menos abençoados! “Deus amou o mundo…” (João 3:16), o mundo das pessoas, o mundo que Ele criou! Ele amou você e continua amando, incondicionalmente e intensamente! Saiba você ou não! Experimente você ou não!

UM SÓ ESPÍRITO COM ELE

“Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:3). Que Palavra poderosa! Deus DESEJA que você seja salvo e O conheça como um verdadeiro e perfeito Pai de Amor, por meio da sua fé em Jesus! Ele é a Fonte de Vida que anelamos no mais íntimo do nosso ser!

O que acontece conosco espiritualmente quando, de forma muito simples, cremos em Jesus e entregamos a nossa vida completamente a Ele, é extraordinário! “Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele” (1 Coríntios 6:17). Você e o Senhor Jesus se tornam um espírito! Assim como o homem e a mulher se tornam UMA SÓ CARNE quando se unem, o ser humano se torna UM SÓ ESPÍRITO com o Senhor Jesus, quando se une a Ele por meio da fé. Isso significa que a vida de Deus agora é a sua vida! O próprio Deus, pelo Seu Espírito, habita em você, e se move através de você! Isso também significa que você tem TUDO o que você precisa para uma vida completa e plenamente satisfeita, onde não falta sabedoria, discernimento, provisão e direção (veja 2 Pedro 1:3-4)!

Legal! Muito interessante! Mas nada disso é real em minha vida! Tenho tentado viver uma vida melhor, mais significativa, mais feliz e mais leve. Mas, quanto mais eu tento, mais eu me frustro!

O QUE DEVO FAZER?

Pare um pouco e reflita sobre essa pergunta. É a pergunta que estamos fazendo a vida toda! Achamos que precisamos sempre saber O QUE FAZER?! Já fizemos DE TUDO e não deu certo! Mas queremos continuar sabendo O QUE FAZER?! E a melhor resposta que eu consigo dar é: SIMPLESMENTE CREIA! “Então lhe perguntaram: ‘O QUE PRECISAMOS FAZER para realizar as obras que Deus requer?’ Jesus respondeu: ‘A obra de Deus é esta: CRER naquele que ele enviou’” (João 6:28-29).

Por que SIMPLESMENTE CRER? Porque ELE JÁ FEZ TUDO! “Está consumado” (João 19:30)! A questão não é orar mais, ler mais a Bíblia, jejuar mais, ofertar mais, pecar menos, reclamar menos, odiar menos! A questão é que não temos condições de fazer ABSOLUTAMENTE NADA para viver uma vida plena… tão somente CRER! E quando de fato CRERMOS, iremos amar a Deus sobre todas as coisas!

POSIÇÃO E CONDIÇÃO

Algo importante que precisamos compreender em nossa vida e relação com Deus é a diferença entre “posição” e “condição”.

“Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus…” (Efésios 2:6). Essa é a sua POSIÇÃO! É o seu estado espiritual em Cristo, que jamais altera! Você é filho (a)! Você é amado (a)! Você foi justificado (a)! Não há mais condenação sobre a sua vida! Essa é a sua POSIÇÃO!

“Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e santidade proveniente da verdade” (Efésios 4:22-24). Essa é a sua CONDIÇÃO! É o seu estado na alma! Ele pode ou não refletir a sua POSIÇÃO! Você é filho (posição), mas você não se sente dessa forma (condição)! A condição reflete os teus pensamentos, sentimentos e experiências, que podem ou não refletir a verdade!

A única forma de conectar a CONDIÇÃO com a POSIÇÃO é por meio da FÉ! Cremos, e depois manifestamos! Cremos, e depois falamos! Cremos, e depois os pensamentos e sentimentos são alinhados com a verdade! A condição deve submeter-se à nossa posição!

A GRANDE SUBSTITUIÇÃO

“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20). Aqui está a chave! Aqui está o que de mais poderoso, intenso, profundo e transformador pode acontecer a você!

Podemos chamar de “evangelho da identificação”. Trata-se de compreender, no mais íntimo do nosso ser, que EU fui crucificado juntamente com Cristo. Eu morri! Morri para o pecado, para o ódio, para a inveja, ciúmes, vingança, ganância, cobiça, imoralidade etc., etc. E AGORA? Cristo vive em mim! Ele é a minha vida! Ele e eu somos UM ESPÍRITO! A minha vida foi SUBSTITUÍDA pela vida de Cristo! A nossa natureza pecaminosa foi substituída pela natureza de Cristo!

Agora pense um pouco sobre QUEM habita em você?! O Messias, o Salvador, o Senhor, O Caminho, a Verdade, a Ressurreição, a Vida, o Bom Pastor, a Videira Verdadeira, o Pão da Vida, a Luz do Mundo! Precisa de mais alguma coisa? “Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas” (Romanos 8:32)?

CHAMADO

Troque a sua vida (aparentemente boa ou ruim) pela VIDA VERDADEIRA, que é CRISTO! Pela fé, simplesmente renda-se a Ele completamente nesse momento! Simplesmente diga que você pertence a Ele! Permita a voz Dele falar com você no seu íntimo e dizer quem você é em Cristo, o quanto Ele te ama, te admira e tem prazer na sua vida! Permita a Presença Dele fluir em você e através de você!

No amor de Cristo,

LUCIANO PAULS

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A Vida Substituída Aplicada – Liderar é Doar-se

Se a vida cristã é a vida de Cristo, então todas as áreas da vida do cristão deveriam refletir a atitude de Jesus (Gálatas 5:22.23). Se a vida cristã significa obedecer à Deus em tudo, como Jesus fez (João 5:19), então a vida do cristão deveria ser uma intensa e constante busca à vontade de Deus. Se tudo subsiste em Cristo e Nele foram criadas todas as coisas (Colossenses 1:15-17), então todo o estilo de liderança que não se conforma com o padrão de Cristo, é pecaminoso, secular e enganoso. (João 13:14-17)

Talvez você reaja a estas afirmações absolutas e argumente que em Romanos capitulo 7, Paulo também vivia frustrado porque não conseguia satisfazer o padrão de Deus. Enfim, ninguém é perfeito! Talvez você até diga que precisamos aceitar as nossas imperfeições e não exagerarmos na busca de uma vida de santidade, afinal a Bíblia mesma diz: “Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; porque te destruirias a ti mesmo”? (Eclesiastes 7.16). Não é suficiente reconhecermos a nossa imperfeição e vivermos nas linhas gerais dos princípios de Miquéias 6:8? E finalmente, a salvação é pela graça, não por merecimento, portanto posso relaxar.

Onde vamos encontrar o equilíbrio entre essas afirmações? Permita que eu use a minha experiência pessoal para exemplificar o preço do verdadeiro discipulado. Confesso que, muitas vezes, mereci a mesma repreensão que Jesus deu aos discípulos quando eles dormiram na mais importante batalha espiritual da história, lá no Jardim do Getsêmani, quando disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espirito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Marcos 14:38). Graças a Deus, mesmo depois de ter fracassado tantas vezes, Jesus não se cansou de me dar outra chance.

Quando nasci de novo a minha vida ganhou um novo sentido. Eu queria seguir a Jesus. Na época ainda era criança e foi a minha mãe que, sábia e constantemente, colocava diante de mim o espelho da Palavra de Deus como referencial para a qualidade de meu comportamento. Ela também me ensinou a assumir os meus erros, de confessá-los e pedir perdão à Deus e, quando necessário, também aos homens. Assim eu cresci, me esforçando para viver a vida cristã. Levou anos para eu fazer como aquela menina que foi perguntado, após se converter, o que ela faria se Satanás batesse novamente na porta do seu coração. Depois de refletir um pouco ela disse: “Eu vou pedir para Jesus atender à porta. E quando Satanás vir Jesus, ele vai dizer, “desculpe, me enganei!” Mandar Jesus à porta… permitir que ele viva em, e através de mim. Essa chave para a verdadeira liderança cristã, descobri bem mais tarde.

Mas deixe-me contar, desde menino eu tinha uma forte vontade. Normalmente queria fazer o que eu achava certo e era muito competitivo. Quando a diferença de opinião com meu irmão mais velho nos levava a brigar, minha mãe nos fazia copiar o Salmo 133 e para a minha vergonha, certa vez, tive que copiar o Salmo 50 vezes. Na escola eu era o mais forte de minha classe e estudar não era difícil. Minha mãe era a minha heroína e soube me encorajar em tudo que era bom. Na minha juventude minha família se mudou da Alemanha para o Brasil e a adaptação não foi fácil. Foi uma época de importantes escolhas. Graças à Deus pela minha mãe, a sua fé sincera

e sua influência sábia! Que benção e que exemplo de autenticidade ela foi! Eu atendia uma boa igreja, havia me tornado líder da mocidade e era bem-sucedido profissionalmente. Aprendi a viver a minha fé corajosamente. Quando fui ao seminário na Alemanha, com 23 anos, estava pronto para aprender a salvar o mundo. Entretanto, as coisas aconteceram de forma diferente. Experimentei a realidade de que seminário não é para dar fé, e sim, para provar a fé. Descobri, na crise, o meu etnocentrismo, minha autossuficiência, meu orgulho e a minha arrogância espiritual. Mas, graças à Deus, também experimentei, nas horas mais escuras, como Ele está perto dos que tem o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido (Salmo 34:18). Quando voltei ao Brasil, depois de dois anos, estava totalmente aberto para o que Deus queria de mim. E ele não parou de me surpreender.

O Senhor me deu a melhor esposa do mundo! Com 27 anos Ele me chamou para liderar a programação nacional de Diaconia, fornecendo alimentos para 260.000 pessoas e desenvolvendo um programa de autoajuda que se tornou modelo para outros países. Com 30 anos Deus nos chamou para iniciarmos e liderarmos a implantação da Rádio Trans Mundial (RTM) no Brasil e 14 anos mais tarde fomos convidados a fazer parte da equipe internacional da RTM, onde servimos juntos e globalmente, por 34 anos. (Nossa história está no livro “Foi Assim…” publicado pela RTM.)

Como você sabe, a vida de discipulado é uma decisão diária (Lucas 9:23-24). Jesus sabe que o pecado e a nossa carnalidade são como a erva daninha. Você corta a erva hoje, mas em pouco tempo ela está de pé novamente e, possivelmente, até em flor. É nesta honesta busca de santificação onde, tão facilmente, falhamos. Durante anos eu repeti erros que hoje lamento. Um desses erros foi ser impulsivo e deixar de procurar mais os conselhos de Deus e de bons conselheiros.

O que mais me impactou e mudou para sempre o estilo de minha liderança, foi quando entendi as profundas implicações de Gálatas 2:20, a vida substituída. Entendi que, apesar da minha velha natureza ter morrido com Cristo, eu ainda não tinha entregue totalmente à Deus a minha vontade, a carne, como Paulo orienta em Romanos 21:1-2. A raiz primária do pecado é o orgulho, a falta de submissão à Deus. Era assim no Édem e é assim ainda hoje. Quando entendi que, quando eu estava no controle das coisas, eu realmente estava fora do controle de Deus, então algo vital mudou. Agora a minha oração constante é: “Senhor, seja feita a Sua vontade, não a minha”.

O estilo de liderança de Jesus foi a de servo. Ele usou uma bacia (João 13:1-17). O estilo de liderança do mundo é o contrário, o sucesso é medido em estatísticas de progresso, o líder é a pessoa forte e mais aplaudida. Precisamos redescobrir e viver o estilo humilde da liderança de Jesus: “Sabeis que os governadores dos povos exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós, pelo contrario, quem quiser tornar-se grande entre vós, seja esse o que vos sirva; e quem quer ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”. (Mateus 20:25-28).

A igreja e a obra missionária pertencem à Cristo. Quando lideramos na carne, afrontamos o Espírito Santo e permitimos que o acusador dos irmãos nos desanime, crie confusão e partidarismo no trabalho. Mas quando o Senhor aprova as nossas obras, Ele mesmo, apesar de nossa pequena força, vai abrir a porta que ninguém pode fechar (Apocalipse 3:8). Portanto, vamos liderar com mansidão e humildade, conforme a sua palavra, e jamais negar o seu Nome!