O texto de 2 Coríntios 4:7-10 tem um significado todo especial para mim. Paulo, animando seus seguidores, nos lembra de que, na verdade, não passamos de meros vasos de barro.
“Portanto, visto que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desanimamos. Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano nem torcemos a palavra de Deus”.
Palavra contundente para todo aquele que cuida da noiva e do rebanho de Deus! E no verso 7, Paulo faz então esta maravilhosa declaração:
“Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós. De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos.”
Que poder e que graça Deus concede àquele que se entrega ao “ministério da misericórdia” salvando e pastoreando o Seu rebanho. Impressionante e inspirador, não é mesmo?
Mas você já reparou que, mesmo dando nosso melhor a Deus e ao Seu povo, nem sempre temos um cântico de vitória como este? Já vi servos fiéis e comprometidos em não “usar de engano, nem torcer a palavra de Deus”, muitas vezes, num piscar de olhos, serem atropelados pelas vicissitudes da vida e acabam sim, abatidos, desanimados e perplexos. Alguns, seriamente quebrados no corpo, nos relacionamentos, na alma e no espírito. Talvez tenha sido um deslize moral ou um casamento que está em frangalhos, talvez um filho desviado, finanças mal administradas, calunias gratuitas, etc. E, devagarinho, o vaso que carrega o mistério de Deus se quebra em cacos. Com a perda e o fracasso, a comunhão íntima com Deus e o ministério também ficam perdidos. E agora?
Mas oh, o nosso Deus nunca nos perde de vista! Ele nos persegue. Ele nos quer perto de Si. Salmo 34:18-19: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espirito oprimido. O justo enfrenta muitas adversidades, mas de todas elas o SENHOR o liberta.”
Glória ao nosso Deus compassivo que sempre nos oferece uma segunda chance!
Li em artigo sobre a arte japonesa chamada Kintsugi (金継ぎ).
“É a arte de consertar cerâmica quebrada sem esconder as rachaduras. Isso é feito preenchendo-as com resina de laca misturada com ouro em pó, prata ou platina. O resultado é um design metálico que acentua o lugar do concerto, tornando o objeto único e mais belo do que antes de ser quebrado. O ponto aqui é: objetos quebrados não precisam ser descartados; bem como a rachadura não deve ser escondida. O significado do objeto não diminui ou desaparece apenas por ter sido quebrado; pelo contrário, o ouro líquido, usado para colar os cacos, valoriza-o ainda mais, bem como a sua história.”
A mesma filosofia se aplica a nós quando somos machucados, lascados, humilhados. Nos tornamos “vaso de barro” quebrados e, por isso mesmo, temos uma história a contar, encorajamento a dar e sabedoria a compartilhar.
Na arte Kintsugi o processo de restauração é demorado, especialmente para a resina secar. Requer paciência e perseverança. Assim é conosco, Deus nos conserta, perdoa e cura. A nós compete esperarmos com paciência pela cura que vem a Seu tempo e não, necessariamente, no nosso.
Que Deus nos ajude a nos achegarmos a Ele com nosso vaso quebrado.
A entregarmos nosso coração partido, a deixarmos o seu Espírito Santo preencher cada rachadura, cada vão do nosso ser com o ouro do seu profundo amor e graça restauradora.
Mas graças a Deus que nos da a vitória através de Cristo Jesus.
Sua palavra nos garante que “…em Cristo, nova criatura é… Eis que um novo se fez.” (2Cor 5:17)
Marli Spieker
Setembro de 2020