Quando o fardo é pesado

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Quando o fardo é pesado

O sol acabara de nascer sobre Cingapura, seria mais um dia quente naquele “país ilha”, bem na ponta da península da Malásia. Nesta cidade moderna e vibrante a Trans World Radio(TWR), Rádio Transmundial no Brasil, mantém seu escritório central para a região da Ásia Pacífica.

Como de costume eu estava tendo o meu tempo devocional, andando nas ruas arborizadas, ainda vazias, perto da Associação Cristã de Moços, onde Marli e eu estávamos hospedados. A reunião da liderança regional seria naquele fim de semana. Os assuntos na agenda ocupavam meus pensamentos. Obreiros de vários países estariam presentes na reunião. Como Diretor Internacional da TWR para aquela vasta região, cuja população somava mais de um terço do mundo, caía sobre mim a responsabilidade de dirigir, desenvolver e supervisionar o ministério. As irradiações provenientes dos potentes transmissores da TWR na ilha de Guam, no meio do Oceano Pacífico, eram ouvidas em toda a região.

Eu orava em silencio: “Senhor, eu preciso de sua iluminação para as reuniões dos próximos dias. Tenho tanto a fazer e as oportunidades são enormes, mas os recursos são limitados.  Além disso estou preocupado com a atitude de alguns de nossos missionários. Francamente, a carga é pesada e me sinto tenso e preocupado. Por favor fale comigo!”

Como muitas outras vezes, quando eu estava em apuros e precisava de uma palavra direta do Senhor, dessa vez também não demorou e a suave voz do Espírito Santo fixou Mateus 11:28-30na minha mente. Fiquei admirado, conhecia esta passagem de cor e salteado. Seria mesmo a resposta que esperava? Deixei a passagem passar na minha memoria: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis descanso para as vossas almas. Pois o meu fardo é leve o meu jugo suave.”

O versículo 29, “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma”, iluminou o meu pensamento. De repente entendi! Sim! Deus estava respondendo a minha oração. Ele apontava para a mansidão e humildade de Jesus, que eu não tinha. Eu era bem educado e polido nas relações, e, certamente, comprometido com a obra, mas a minha maneira objetiva e focada de liderar carecia, em muito, desta mansidão e humildade de Cristo. 

Desde a minha conversão, aos 7 anos, eu achava que a forma de expressar a minha devoção ao Senhor seria através do meu trabalho por Ele. E eu gostava de trabalhar! Qualquer desafio era bem-vindo. Quando criança já era destemido e testemunhava a minha fé sempre houvesse uma oportunidade. Na mocidade eu era ativo e envolvido na igreja. Depois do seminário liderei varias organizações missionárias e, nesse momento, estava incentivando novos avanços na região de Cingapura, onde fixaríamos residência para os próximos anos.

Mas Deus não estava falando de trabalho, de ministério, nem revelando novos planos estratégicos. Ele estava falando do meu relacionamento com Cristo, do jugo que eu deveria tomar. De repente entendi que, no meu desejo de trabalhar para Cristo, perdi o mais importante, a intimidade com ele. Com voz baixa respondi: “Perdão Senhor, eu quero tomar o teu jugo, por favor me ensine, me ensine a tua mansidão e humildade!”

Aquela manhã foi um marco na minha vida espiritual. Se eu não tivesse tido aquele encontro com o Senhor, pela Palavra, eu não sei como teria vencido as grandes e muitas mudanças que aconteceram nos anos que se seguiram. No próprio fim de semana daquela reunião regional eu fui chamado pelo presidente de TWR para entregar o meu cargo e me tornar o capelão da equipe de missionários. 

Voltamos para a sede da TWR nos EUA e, de repente, o meu mundo se tornou silencioso e contemplativo. Meu título mudou, meu foco mudou. Agora não era mais a obra, a organização, os planos estratégicos, os orçamentos, e sim, o foco nos obreiros e em suas necessidades nos mais diversos lugares no mundo. Agora eu tinha mais tempo para orar, estudar, aplicar a Palavra e servir nos contatos pessoais, pelo conselho e encorajamento, e pelo acompanhamento à distância.

Mas algo inesperado aconteceu. Apesar de eu ter aceitado a nova posição como um chamado de Deus, eu entrei em uma verdadeira crise de identidade. Eu sentia falta da minha posição, do meu título, do poder da minha influência, do fascínio dos projetos e daquilo que era natural para mim por tantos anos, liderar.  

Mas eu estava comprometido com o que tinha prometido a Cristo, de que queria aprender dele a mansidão e a humildade. Porém agora tinha descoberto que, apesar dos meus muitos anos de convertido, eu ainda estava no início do curso de discipulado. Foram noites de luta espiritual até que eu concordar a negar a mim mesmo, lançar o peso da minha “carne boa e produtiva” aos pés de Jesus e aceitar a minha cruz. 

Entendi que seguir a Jesus é, de fato, render o meu controle e permitir que Ele viva a Sua vida em e através de mim. Também descobri que aquela humildade, que O fez obediente até a cruz, é o que nos aproxima de Deus e se torna motivo de regozijo e descanso. 

Confesso, hoje, que este processo de entrega não terminou. Ele é diário. Mas sou testemunha de que o resultado vale a pena. O Seu jugo de fato é suave e o seu fardo é leve!   

Edmund Spieker

Churches in Missions

www.churchesinmissions.org

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