Em 1998, logo após deixar minha posição de executivo global na Rádio Trans Mundial, fui confrontado com Gálatas 2:20. A TWR havia me convidado para ser o capelão de nossa equipe de missionários ao redor do mundo e para me preparar melhor para o novo desafio foi-me concedido um semestre livre para que eu pudesse concluir meu mestrado em Missiologia, na Columbia International University, na Carolina do Sul. Quando voltei ao escritório central, o presidente me lembrou: “Edmund, você foi um executivo por mais de trinta anos, com poder de decisão e influência. Agora vai ser um tanto diferente; você vai precisar estar à disposição destes missionários, ouvindo-os, orando e servindo a cada um.”
Eu concordei e estava determinado a fazer o meu melhor. Não me faltavam ideias de como melhorar o pastoreio desta equipe tão dedicada e altamente qualificada. Dessa forma, quando chegavam do exterior, eu os atendia com muita atenção e cuidado. Ouvia suas histórias, agradecia o seu trabalho, os encorajava e sempre orava com eles.
Semanalmente, comecei a publicar mensagens curtas e pontuais e as distribuía entre nossa equipe global. Estabeleci pequenas bibliotecas com material específico de cuidado emocional e espiritual. Também planejava realizar seminários anuais nos diversos campos, entre outras coisas. Ficou óbvio para mim que a nossa equipe de linha de frente, que operava as estações de rádio e ministério em pontos estratégicos para o trabalho missionário, estava sob constante ataque espiritual. Apesar de sua coragem ao enfrentarem um mundo estranho e as vezes hostil, ficou claro que eram vulneráveis e careciam de todo cuidado pastoral possível.
Estava convencido de que essa tarefa, a mim confiada, era de extrema importância. Segui o que os apóstolos disseram em Atos 6:4 e me dediquei à oração e ao ministério da palavra. Mas, mesmo assim, algo estranho estava acontecendo dentro de mim.
Como não era mais parte da equipe executiva, analisando e planejando o ministério ao redor do mundo, logicamente não participava mais das reuniões de liderança da missão. De repente ninguém mais estava interessado na minha opinião quando as decisões estratégicas eram tomadas. Isso me incomodou. Pior ainda, mexeu com a minha paz interior e balançou minha autoestima. Entrei em crise; sem posição, status e influência, quem eu era, afinal?
Lá no fundo eu sabia que estava no lugar certo e que Deus me tinha chamado para este trabalho, mas meus sentimentos e minhas emoções estavam em polvorosa, então comecei a me rebelar. Eu estava envergonhado por não conseguir, simplesmente, ignorar esses sentimentos. Eu precisava de ajuda, então confessei ao Senhor a minha rebelião. Levou algum tempo até eu entender a razão de toda aquela tempestade interior.
Em um certo dia, Deus usou Provérbios 3:5-6 para falar profundamente comigo: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.” Naquela mesma noite Deus me surpreendeu, como que num sussurro ao meu coração, perguntando: “Edmund, você precisa mesmo daqueles títulos? Posição? Influência e status? Não sou suficiente para você?” Envergonhado respondi: “Sim Senhor, o Senhor é suficiente”. Então entendi que o meu problema estava em minha identidade fora de foco. Tinha perdido meu primeiro amor. O que eu fazia e o que eu sabia tinha se tornado mais importante para mim do que quem eu era em Cristo. Estava por anos vivendo baseado na minha “performance”. Eu estava baseando meu valor pessoal naquilo que eu fazia, no que eu representava e não no valor intrínseco que recebia da minha posição em Cristo, na graça de me alegrar e me satisfazer, simplesmente, nele.
Senti um profundo arrependimento em meu coração e me rendi nova e totalmente a Ele. Foi maravilhoso sentir o bálsamo de Sua graça e amor, o Seu perdão, a Sua cura e perceber Ele retirando os entulhos orgulhosos do meu coração. Foi um divisor de águas em minha caminhada espiritual. E, desde então, diariamente, Deus tem me ensinado a caminhar mais perto d’Ele.
Gálatas 2:20 – “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e este viver que, agora tenho na carne; vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou a si mesmo se entregou por mim”, tem se tornado minha bússola apontando-me o caminho de como viver firmado em minha verdadeira identidade em Cristo.
Romanos 6:6 também mostra essa mesma realidade: “Sabendo, pois, isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que, como Cristo ressuscitou dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nos em novidade de vida.”
Sim, graças a Deus, o velho homem, a minha velha identidade em Adão, morreu com Cristo na cruz quando Cristo se entregou em meu lugar! Pela fé n’Ele fui transformado. Sou nova criatura (2Coríntios 5:17)! Graças a Deus, Cristo vive em mim (Colossenses 1:27). Portanto, posso dar de mão os meus títulos, a minha influência, o meu status, enfim, todo o controle da minha vida.
Posso e quero me submeter, em primeiro lugar, a Sua vontade soberana em tudo o que faço e sou! Posso e quero andar no Espirito (Gálatas 5:16) todos os dias de minha vida, venha o que vier! Isso me enche de paz e leveza de alma! Quanta alegria tenho recebido quando tomo sobre mim o Seu jugo e aprendo dele e, em submissão amorosa, deixo Ele realizar o ministério através de mim. Isso é viver a verdadeira vida cristã, não eu, mas Cristo em mim.
Edmund Spieker
Churches in Missions